14 de Julho | 21h30 | Duas performances seguidas de uma conversa

BRUXISMO de Francisco Babo
Aquilo que eu vou fazer é algo que não sei se você faria. Não que mo caiba a mim mas apenas que o desejei.

Um homem esmaltado sobe para o palco onde tem invariavelmente de se movimentar. Os dentes rangem como se de madeiras para a alma se tratassem. Aquilo que vos une a esse homem é uma suspeita de que o outro pode ser diferente ou estar apeado ou ser obtuso.
Uns, bruxam de dia,
mas ela bruxava na noite.
Dantes do dia que ergue a polpa do homem da seiva nocturna, dantes do sol proteger um seu servo com tabacos, dantes da hora surfar a madrugada, alguém bruxa.
Bruxa forte e feio.

A polpa é som de algumas fornalhas, é sémen de alguns presbíteros.
A imagem é mordedura constante no fruto invisível.
Verde ou maduro.

Francisco Babo. No Porto nasceu em 1986, um mês e poucos dias depois de Tchernóbil.
Estudou Pintura e Práticas Contemporâneas.
Desenvolve um trabalho amador na área das artes plásticas desde 2010.

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SEM TÍTULO 01 de Orlando Gilberto-Castro
A. Avatar (do francês avatar, descida; do sânscrito avatara, descida do céu para a terra de seres supraterrestres) Priberam.pt
B. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal. A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena. Vigiar e Punir, Michel Foucault
C. We've arrived.
Who are you?
We are men.
[Silence.] Waiting For Godot, Samuel Beckett
D. São estímulos, o contacto com outros corpos, a instabilidade. Uma instabilidade produtiva, no sentido em que acabas por estar sempre numa situação de fragilidade. E a fragilidade exalta a criação. Didier Fiúza Faustino, citado por Pedro Baía, Dédalo Displace

Se a casa deve ser materialização do sujeito que habita, o corpo deve ser manifesto do seu eu. Num e noutro caso, essa relação é condicionada: pela inércia que perpetua paradigmas não necessariamente adequados; por todas as convenções sociais, todas as restrições, interiores e exteriores, inibições e impossibilidades. Não se trata de torturas, dos suplícios de Foucault: a punição, o castigo, deixou de se exercer sobre o corpo para se centrar nesse eu interno; faz-se de restrições às liberdades, faz-se de repressão. Já não se corta um membro, mas continuam a cortar-se coisas.

O ano, 1989. O local, Porto. Nasce Orlando Gilberto-Castro. Quinze foram os anos que o separaram do curso de Artes Visuais, dezasseis do teatro amador (Máquina de Nuvens), dezoito do curso de Arquitectura. Trabalha com o Teatro Universitário do Porto desde 2011, tendo realizado o Curso de Iniciação à Interpretação em 2012, com espectáculo final dirigido por Cláudio da Silva. Em 2013 trabalha com Victor Hugo Pontes em Já Gastámos as Palavras. Realizou no presente ano o Curso Prático de História da Dança, com Vera Santos e a cenografia do espectáculo O Despertar da Primavera (em colaboração com Marta Pereira e Tiago Ascensão). Encontra-se actualmente a desenvolver a sua dissertação para conclusão do curso de arquitectura, onde explora a relação do sujeito não-especializado com o espaço e o seu potencial perceptivo. Quase arquitecto, actor amador e et cetera.


21 de Julho | 21h30 | Duas performances seguidas de uma conversa


A ESPERA de Loreto Martinez Troncoso com Emily King e Angélica Salvi
A espera ou à espera é o título das palavras, das voces1
Trata-se de “esperar” que ao mesmo tempo é ficar à espera e sperare (ter spe). Esperança de...) “– Quando esperamos uma pessoa é porque temos esperança que chegará. Quando perdemos a esperança, vamos embora... e deixamos de esperar (?)” Ao mesmo tempo, a palavra latina spes está ligada à raiz indo-europeia spe- (expandir-se) presente também no adjectivo latino prosperus (feliz, que se expansiona, que se ex-pa-n-siona)...
1 a voces : Loc. fig. & fam. aos gritos.

Loreto Martínez Troncoso, nasce, vive e trabalha em. O seu trabalho consiste essencialmente em quem questiona os entre e. Desde faz uns anos, desenrola uma pesquisa sobre, um espaço mental onde a e os evocam o mesmo da construção de uma. Imagina e põe em lugar não para, mais também para se adaptar aos. Recentemente tem introduzido princípios nas suas obras que, via a montagem entre e, ou a través da introdução de uma voz de, produzindo novas postas em distancia e efeitos de. Tem colaborado com e participa a. Tem especialmente exposto em, na, no e nos/nas e os seus últimos projectos tiverem lugar no, em, na, no, no, nos/nas e na, a aa e na a-a-a-a-ah! Na intenção de desenrolar novas, amplia as suas pesquisas a traves do da, particularmente e vale-se da para, comprometendo assim a e a/o com os/as, etc.

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PELOS NOMES de Vera Santos
Esta performance renasce da preocupação de saber do que se fala quando se dizem as palavras que se dizem, e antes de um manifesto que hei-de escrever.
As palavras estão gastas e cansadas, há que desempoeirar-lhe os sons e polir os seus significados.
Manifesto é uma declaração pública em que se expõem os motivos que levaram à prática de certos actos que interessam a uma colectividade.
Dar o corpo ao manifesto é arriscar-se, expor-se.
Ter opinião não é necessariamente estar a favor ou contra! É ter pensamento.
Performance é actuação. E o público (só?) assiste. (ver pf em letra A do dicionário)


Vera Santos Nasceu no Porto, em 1973. Estudou artes plásticas na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, fez o Curso profissional de dança no Balleteatro; o Bacharelato de Teatro na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo; a Licenciatura em História da Arte na Faculdade de Letras e o Mestrado em Estudos Artísticos (Teoria e Crítica da Arte) na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Fez o curso de Coreografia e o de Artes da Performance  Interdisciplinares e Tecnológicas do Programa de Criatividade e Criação Artística da Fundação Calouste Gulbenkian e, no âmbito do programa O Estado do Mundo, esteve na residência artística Sítio das Artes, instalada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão daquela Fundação (Lisboa). Participou na residência artística MUGATXOAN co-organizada pela Arteleku (S. Sebastian/ Espanha) e pela Fundação de Serralves (Porto). Na génese é bailarina e está sediada no Porto.
Só para ocupar espaço
Só para ocupar espaço